25 de novembro de 2010

Michaella, você não me conhece


sou amigo da sua irmã, a Jô. É que eu quis escrever uma coluna especialmente para você, mas achei que seria muito envasivo. Assim troquei os nomes, para ninguém ficar sabendo (só você, sua irmã e eu, que até o final do texto responderei — caso me chame — pelo nome de Joaquim para também entrar na dança). A Jô voltou ontem da sua cidade e disse que você está apaixonada pela primeira vez na vida, que você está desesperada, não sabe o que fazer, nunca falou com o cara ao vivo, mas quando ele aparece no ICQ sente as pernas bambas, dor no estômago e esquece subitamente o português. Pensei em escrever algo que te acalmasse, que te ajudasse. Gostaria de dizer: fica tranquila Michaella, é assim só da primeira vez. Depois passa, mais tarde você saberá exatamente o que fazer diante do cara, o que falar, como seduzi-lo.
Não haverá mistério, não haverá nervosismo, não haverá pernas bambas nem palpitações, vontade de sair correndo ou 24 horas de arrependimento por ter dito aquela frase e não outra mais perfeita. Infelizmente, logo vi que não tinha jeito. Aos 13 anos, aos 31 e aos 113, apaixonar-se é isso aí que você está vendo (ou que não está vendo, pois algumas paixões intensas causam cegueira, mudez, gagueira e surdez). Você não sabe o que falar para o cara no ICQ? Tem medo de que ele te ache boba, imatura ou desinteressante? Pois a Jô, eu, a Cicarelli e o rei da Espanha, aposto, nos sentimos da mesma maneira. Tem coisas que com alguma sorte e boa vontade, a gente aprende na vida. A dizer não, a dizer sim, a fazer arroz, feijão e as pazes com os amigos. Aprende também a mandar uns folgados plantar batatas, aprende que a capital da Suécia é Estocolmo, que a estrada para o Rio é a Dutra e para Ubatuba é a Ayrton Senna. Mas o que fazer quando a gente ama muito uma pessoa? Como falar "Oi, tudo bem? E aí, beleza?", sem achar que está babando, tremendo ou falando coisas desconexas como "mostarda blablablá comandatuba tiros flops"? Isso a gente morre sem saber. Bom, pensa você que se não tem nada para acrescentar, Joaquim, por que escreveu esta coluna? Talvez porque sabendo que isso acontece com todo mundo, você fique mais tranquila (mais ou menos como quando a professora diz que quem não levar o livro de Biologia não poderá entrar na classe amanhã, aí você esquece o livro, fica desesperada e só se acalma quando descobre que um monte de gente também não levou). "Pô, quer me acalmar? Estar ferrada em grupo é melhor do que estar ferrada sozinha?" Acho que sim. É isso Michaella, você está ferrada, estamos todos ferrados. Parabéns, não existe nada melhor na vida nem mais difícil. Bem-vinda.

Antonio Prata

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